domingo, 27 de novembro de 2011

Companhia das Indias


Porcelana MING
Julgo não ser uma peça fácil de comprar,talvez pelo indecifrável do desenho(?)...só um apreciador de porcelana oriental confere o devido valor à peça.
No caso apaixonei-me,tenho outro muito semelhante, embora mais pequeno.
Enriquecem o meu hall de entrada juntamente com uma série de pratos em porcelana azul dita Cantão possivelmente atribuídos ao reinado de Jiaquing 1796/1820, nos cantos em jeito de remate dois exemplares de cães de Fó, os maiores também comprados no mesmo vendedor ontem...hoje de manhã o meu marido ao sair mirava-os...saiu-lhe da boca " olá guardiões da casa"...gostei mais deste novo enfeite do que laços e anjos de Natal!
Porcelana Cantão Azul e Branca
O conjunto decorativo em porcelana da China torna o espaço da entrada belo, no entender cá de casa....
Festival de namoro de feira em feira há coisa de dois meses...não só eu como o colega do vendedor que habitualmente ao pé dele abanca e nele compra muitas peças para revenda,algumas vezes atrasada, a ele as compro com o preço inflacionado da recompra feita à segundos... no caso, gosto e muito, se compro bem...o que nem sempre acontece! Quis o destino que hoje lhe ganhasse a dianteira, porque o namorou novamente, confidenciou-me o vendedor.
O preço foi convidativo,leves esbeiçadelas no rebordo, trata-se de um vendedor que classificaria de primeira linha, a quem compro as melhores peças e mais em conta, ainda por cima um homem moreno,interessante e charmoso!
Trata-se de uma peça de porcelana fabricada na China
Dimensões (cm):altura: 2,9; diâmetro: 19,9
Na especialidade trata-se de um prato covo em porcelana de Foukien destinada à exportação de finais do séc. XVI aos inícios do séc. XVII, frequentemente chamada de porcelana de "Swatow", feita principalmente para o mercado asiático, era, no entanto conhecida na Europa desde os inícios do séc. XVIII. Se exceptuarmos alguns vasos, a maioria daquela produção compreende grandes pratos e taças de uma forma irregular e com uma pasta grosseira.
O desenho tem falta de finura, mas tem o mérito da espontaneidade.O traço é espesso, o azul ligeiramente acinzentado, mas deslavado.
Prato de forma circular, suportado por um pequeno frete, foi moldado numa porcelana espessa e grosseira.
A decoração tanto interior como exterior apresenta um desenho aparentemente não identificável em vários tons de azul sob um vidrado branco acinzentado e opaco, para mim um DRAGÃO,para o meu marido um ESCORPIÃO, identificável no prato mais pequeno, consegue distinguir a cabeça, e até virou os pratos de modo que a haste em arco virada por cima da cabeça lhe confere essa semelhança, ficam as dúvidas!
No centro do fundo encontra-se uma marca de letra chinesa não identificável.
Outro prato covo de menor dimensão com 15,5 CM
Textura igualmente grosseira embora mais leve o que denota tratar-se de uma peça de fabrico mais recente que o primeiro prato.
Tardoz dos dois pratos assinados
Datação (?)
No Palácio Nacional de Sintra existe um exemplar do mesmo tamanho do primeiro de tonalidade azul cobalto datado do século XVII d.C. - Dinastia Ming- reinado Wanli 1573 - 1620.
  • Independentemente da época de fabrico,seguramente são muito antigos,poderão ter sido fabricadas no reinado de Quialong 1736 - 1795 ou à posterior.
Curiosamente tenho-me dado conta que as peças mais antigas que tenho encontrado estão marcadas em detrimento de outro fabrico à posterior como o Cantão azul, Mandarim e...
Os dois exemplares é legado para deixar à minha filha que aprecia imenso esta porcelana. 
As feiras tem o condão,a magia da compra e da venda, de licitar, do leilão, da oportunidade,do azar,do buliço,do vaivém de gente, da conversa, da partilha e das estórias que se ouvem no entretanto do compasso de espera nos corredores atrofiados e entupidos de pessoas a ir e a vir...umas antigas peixeiras que entraram neste negócio há coisa de ano e meio, uma senhora pergunta o preço de um candeiro pequeno, uma das vendedoras pergunta à outra de "olhão, a mandante, a chefa", matreira, espertalhona com uma grande lata, vira-se para a cliente e diz "a esse posso fazer-lhe 100€"...reparei que nos últimos tempos deram para comprar ao alfarrabista que lhe fica de banca nas traseiras, catálogos de leilões,por comparação fazem preços, que das peças não sabem,em rigor nada de nada ( numa das feiras que vendi em frente delas vim embora mais cedo porque não suportava mais o alarido que faziam à volta dos clientes com os catálogos, com conversas, só mesmo quem é incrédulo e desconhecedor ali continua a parar...à 3º compra percebi como funcionava, infelizmente ou não, comprei-lhes um prato coberto inglês sem marca, vendido como sendo Sacavém com uma grande estória "que o tinha deixado de vender na feira da ladra porque o senhor ateimou no preço,ela foi mais teimosa do que ele e,"...enfeitiçada -, a peça era de facto bonita, última compra,na banca já nem paro, apenas cumprimento...o meu marido ainda me fez a observação " tem de pagar a carrinha nova"...nisto, uma vendedora madura de chapéu na cabeça,perna trocada, sentada no banco de jardim de encosto na banca, aspeto azeitado,possivelmente ainda não se tinha estreado demonstrou das coisas que vende pouco saber...interpelada por um freguês sobre o preço de uma travessa "cavalinho" num ápice se levantou e respondeu "é da coroa...o bom homem espantado disse-lhe" é de quê? " remata ela " é da coroa, da coroa..." na vez de dizer é uma peça de Sacavém do ano de...veja o carimbo no tardoz tem a coroa impressa na pasta que a identifica como sendo da Real Fábrica que na altura usava o símbolo da coroa...argumentos para motivar o comprador que gosta de saber, aprender...ainda estive de conversa com outro vendedor, o Rui que me confidenciou o negócio estar parado,há muita gente a saber muito de velharias, já não se vende como antigamente...aproveitei o ensejo e disse-lhe "todos aprendemos uns como os outros, quando uma peça não está marcada temos de analisar os pormenores e assim classifica-la o mais correto possível na origem"...espantado pergunta como faço isso...respondi...lembra-se há tempos de me ter vendido um prato motivo cantão popular como de Miragaia e que na altura eu disse-lhe que não seria...você vira-se para mim e responde "já me passaram pelas mãos dezenas deles, sei do que falo..."...calei-me...em casa analisei ao pormenor o prato, pelo desenho, muito identificável a palmeira incompleta, a cor do azul, o rebordo e ainda uma marca impressa na massa um "V" de Vandelli de Coimbra....ficou sem fala! 
  • Naquilo diz-me "aqui o da frente agora uma senhora perguntou-lhe se um prato era ratinho...ele disse-lhe que sim, sem saber se era...depois remata, sabe nesta arte não se pode ensinar tudo ao cliente...ao que respondi " a pessoa que fala é um analfabeto em faiança, não pesca nada de nada, o argumento, a estória para concretizar a venda é sempre o mesmo,não tem memória visual, e faz falta...só sabe pedir dinheiro, isso sabe e bem, por isso as peças na banca andam meses e meses, anos, nunca reparou?...ficou espantado com a minha observação!
Talvez pelo meu passado profissional faz sentido para mim que na arte de vender devem coexistir atributos,feeling para encantar o cliente, conhecimento e destreza para concretizar com arte o negócio a contento de ambas as partes e até para o fidelizar e voltar.
  • Em remate o vendedor dos cães de Fó e do prato é um homem de cariz sério, atencioso, na banca tem vários preços para todas as carteiras, nos que o não são faz sempre desconto, remata o negócio com um sorriso doce, um dos meus favoritos e habitués!

Faiança do norte de Gaia com flor de avenca a imitar o Juncal

Grande prato em faiança com motivo decorativo simples- ramos de avenca. Numa primeira impressão diz-se que é produção do Juncal. Numa s...